China pode pressionar as frouxas proteções do Cerrado no Brasil

Uma delegação do governo brasileiro, liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, esteve esta semana na China para participar da Cosban, comissão bilateral de alto nível, com o objetivo de fortalecer as relações comerciais com os chineses. Os dois países aproveitaram a ocasião para celebrar o 50º aniversário das suas relações diplomáticas bilaterais.

Internamente, porém, as exportações agrícolas do Brasil para a China estão no centro de um grande problema brasileiro, que virou notícia no ano passado: a crise do desmatamento na savana tropical do Cerrado, particularmente na chamada região do Matopiba, que representa a intersecção entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Envolvido pelo agronegócio de exportação, o Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e a savana com maior biodiversidade do mundo. Considerada a caixa d’água do Brasil, abriga também as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul.

Como O Relatório Brasileiro mostrou, um relatório publicado pelo MapBiomas no final de maio indicou que o Cerrado ultrapassou a Amazônia e se tornou o bioma mais desmatado do país em 2023. Somente a região do Matopiba foi responsável por 47% de todo o desmatamento registrado no Brasil.

E a China consolidou-se como ator central neste processo, em meio a exigências ambientais mais rigorosas impostas pela União Europeia. Em 2023, as vendas para o país asiático foram recordes, ultrapassando US$ 60 bilhões — mais de 36% do total exportado pelo agronegócio brasileiro.

Entre os dez principais produtos exportados pelo Brasil, o mercado chinês foi o principal destino da soja, milho, açúcar, carne bovina, aves, celulose, algodão e carne suína in natura do país.

Especificamente no Matopiba, a China consolidou-se como principal compradora de soja, milho e algodão, num período em que a região se tornou a nova fronteira agrícola do Brasil — e também o que os especialistas chamam de “bioma de sacrifício”.

O desmatamento no Matopiba mais que triplicou desde 2019, atingindo 859 mil hectares em 2024 — cerca de cinco vezes o tamanho…