Minha Casa Pre Fabricada

Brasil ainda não tem dinheiro para causar impacto maior nas Olimpíadas

Mais de 40% dos brasileiros já sonharam, em algum momento da vida, em se tornar atletas profissionais. Esse sonho é mais comum entre famílias de baixa renda (46%), em comparação com as mais ricas (34%), já que a carreira no esporte é vista como uma forma de mobilidade social.

No entanto, fatores como falta de incentivo financeiro (32% dos que praticaram esportes na infância e adolescência) e dinheiro (27%) impediram muitos de perseguir esse sonho.

Os resultados são de uma pesquisa recente realizada pela empresa Serasa, em parceria com o instituto de pesquisa Opinion Box, e refletem uma realidade bastante conhecida no país.

A cada edição dos Jogos Olímpicos, a atenção do público se volta para os diversos casos de atletas brasileiros que precisam recorrer a campanhas de arrecadação de fundos online ou que mantêm empregos secundários enquanto competem no mais alto nível de suas modalidades.

Na esfera privada, os clubes muitas vezes pagam os atletas apenas com verbas ou contratos por prazo determinado, sem todos os direitos trabalhistas dos funcionários comuns, como mostra podcast publicado pelo Tribunal Superior do Trabalho.

A judoca Rafaela Silva, medalha de ouro nas Olimpíadas Rio 2016, ganhou bolsa do Bolsa Atleta. Foto: Marco Galvão/Fotoarena/Folhapress

Na esfera pública, a partir dos anos 2000, a legislação passou a prever três mecanismos principais para o financiamento de esportistas. Desde 2001, uma lei destinou cerca de 1,7% do valor apostado em todas as loterias federais do país ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e outras entidades, enquanto uma lei de 2006 prevê isenções fiscais para o financiamento de projetos esportivos.

Esse tripé se completa com o programa Bolsa Atleta, em vigor desde 2005 e considerado um dos maiores programas de apoio ao esporte do mundo. Atualmente, mais de 8.700 atletas são beneficiados, recebendo mensalidades que variam de R$ 410 (cerca de USD 70), para atletas jovens, a R$ 16.600 para aqueles que ocupam posições de destaque em rankings mundiais.

Mas o valor desses pagamentos mensais ficou 14 anos sem ser ajustado pela inflação. Em 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou um aumento de 10,86% nas bolsas do Bolsa Atleta.

E em 2023, Lula sancionou a Lei Geral do Desporto, regulamentando a profissão de atleta, antes restrita aos jogadores de futebol. A legislação trouxe mudanças aguardadas há muito tempo, como a previsão de licença-maternidade para atletas do sexo feminino.

As medidas ocorrem em um momento em que o país busca retomar seu destaque no cenário esportivo internacional, após grandes eventos realizados em meados da década de 2010.

Em 2025, o Brasil sediará pela primeira vez a Copa do Mundo de ginástica rítmica, e também os Jogos BRICS. Em 2027, haverá a Copa do Mundo de futebol feminino, que pela primeira vez na história será realizada na América do Sul.

Brasil nas Olimpíadas de Paris, em números

Nas Olimpíadas de Paris, 98% dos 276 atletas do Time Brasil receberam apoio do Bolsa Atleta em algum momento de suas carreiras — e 87% ainda recebem, de acordo com o Ministério do Esporte.

O boxe é o destaque, com todos os dez atletas da seleção olímpica brasileira no nível mais alto do programa Bolsa Atleta, voltado para atletas com maiores chances de ganhar medalhas olímpicas. Esse nível chamado “Pódio” paga transferências mensais que variam de R$ 5.500 a R$ 16.600.

Segundo o Ministério do Esporte, entre as 39 modalidades esportivas com representantes brasileiros, 27 têm todos os atletas bolsistas.

Atletas militares representam um terço dos brasileiros que competem nas Olimpíadas de Paris. Foto: Alexandre Manfrim/Ministério da Defesa

Os números ainda são tímidos, no entanto. Em 2024, o Bolsa Atleta abrange cerca de R$ 160 milhões, destinados aos esportes olímpicos e paralímpicos. Individualmente, a maioria dos atletas olímpicos recebe R$ 3.437 por mês — aproximadamente 2,5 salários mínimos.

Com financiamento e patrocínio escassos para atletas brasileiros, as Forças Armadas se tornaram uma importante fonte de financiamento. Desde 2008, os militares administram um programa para atletas de alto rendimento, investindo cerca de R$ 6 milhões anualmente.

Atualmente, 533 atletas militares têm todos os benefícios de uma carreira militar (mesmo que não sejam militares da ativa), como salário e assistência médica, além de instalações de treinamento especializadas.

Nas Olimpíadas de Tóquio, 91 da delegação brasileira de 302 pessoas representaram as Forças Armadas, espalhadas por 21 esportes. Entre eles estava a boxeadora medalhista de prata Beatriz Ferreira (que compete pela Marinha). Em 2024, as Forças Armadas levarão 98 atletas de 21 esportes para Paris.

Em troca dos benefícios, os atletas patrocinados pelas Forças Armadas geralmente fazem uma saudação militar no pódio.

O programa seleciona membros com base em seus resultados em competições nacionais e internacionais. Portanto, apenas atletas de elite são trazidos para o grupo militar.

O projeto foi inicialmente concebido como preparação para os Jogos Mundiais Militares de 2011, nos quais o Brasil liderou o quadro de medalhas com 114, incluindo 45 de ouro. Mesmo durante um período de corte de custos e redução de investimentos para os setores público e privado devido à pandemia de Covid, o financiamento para atletas militares permaneceu intocado antes das Olimpíadas de Tóquio em 2021.

O governo Lula se gabou dos efeitos de despejar dinheiro público no financiamento de atletas. Desde 2000, os investimentos federais em esportes somaram R$ 28,2 bilhões. Entre 1920 e 2000, o Brasil ganhou 66 medalhas em 15 Jogos Olímpicos. Nos cinco jogos seguintes, o país ganhou 84 medalhas.

Em 2023, a Lei de Incentivo ao Esporte arrecadou mais de R$ 948 milhões, beneficiando projetos que atendem um milhão de pessoas. Quase R$ 200 milhões foram destinados a atletas de alto rendimento.

Por meio da Lei das Loterias, cerca de R$ 400 milhões foram repassados ​​em 2023 ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB), e um quarto disso ao Comitê Brasileiro de Clubes (CBC).

O COB pagará R$ 350 mil a cada medalhista de ouro. Os medalhistas de prata levam R$ 210 mil, e os de bronze, R$ 140 mil. Os valores mudam para esportes coletivos. Em algumas modalidades, as próprias confederações também prometem prêmios.



Com informações de Brazilian Report.

Similar Posts