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Supremo Tribunal Federal do Brasil declarará amplos direitos às terras indígenas

No que deverá ser uma grande vitória para os direitos indígenas e uma derrota para o Big Agro, o Supremo Tribunal alcançou a maioria na quinta-feira para rejeitar o chamado “argumento do prazo”.

Os grupos indígenas afirmam que os seus direitos à terra devem ser concedidos com base na sua ligação ancestral a um determinado território. Os lobbies do agronegócio, entretanto, procuraram definir o dia 5 de outubro de 1988 – a data em que a Constituição brasileira foi promulgada – como o ponto limite para os direitos à terra. Segundo esse entendimento, se um grupo indígena não conseguisse comprovar que estava ocupando ou contestando a referida terra naquela data, não teria reivindicação territorial.

Os líderes indígenas rejeitaram o argumento do prazo porque várias comunidades foram deslocadas das suas terras enquanto a Constituição estava a ser elaborada. Além disso, fornecer provas concretas da ocupação de um pedaço de terra há 35 anos não é simples, especialmente para as comunidades pobres e por vezes isoladas.

O argumento do prazo foi apresentado pela primeira vez no Supremo Tribunal Federal em 2008, pelo ex-juiz Carlos Ayres Britto, durante um julgamento sobre a terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o estado mais ao norte do Brasil – uma área marcada por conflitos entre comunidades indígenas e produtores de arroz.

O ex-ministro Britto argumentou que os direitos indígenas à Raposa Serra do Sol não poderiam ser contestados, pois estava claro que eles já viviam lá quando a Constituição entrou em vigor. A Constituição protege os direitos dos povos indígenas sobre as terras “que eles ocupam tradicionalmente”, com ênfase no presente do verbo.

Embora este argumento tenha sido originalmente usado para beneficiar os povos indígenas, os lobbies rurais e os políticos ligados ao Big Agro têm-no usado desde então para o objectivo oposto.

O ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro foi um dos maiores defensores do argumento. Os seus dois nomeados para o Supremo Tribunal, Kassio Nunes Marques e André Mendonça, apoiaram a minoria para a defender.

Os registros da Assembleia Constituinte do Brasil na década de 1980 mostram que aqueles que elaboraram a Carta (muitos dos quais ainda estão vivos e ocupam cargos públicos hoje) debateram explicitamente a questão da ocupação de terras indígenas.

A redação do anteprojeto foi alterada a pedido de um senador conservador para não definir algo semelhante a um prazo ou ponto de corte, justamente para defender os direitos dos povos indígenas às terras que talvez não ocupassem na época da assembléia, mas tinham direito.

O Supremo Tribunal ainda não concluiu o caso. Os legisladores pró-agro no Senado estão correndo para conseguir a aprovação de um projeto de lei sobre o assunto para sustentar o argumento do prazo, que já foi aprovado na Câmara.

Para as organizações indígenas, simplesmente derrubar o argumento do prazo não é suficiente. A Apib, uma dessas organizações, manifestou preocupação com o voto do ministro José Antonio Dias Toffoli, que levantou discussões sobre a exploração econômica de terras indígenas.

“Entendemos que não é hora de fazer esse debate; a forma como ele fez isso, em certa medida, flexibiliza o usufruto exclusivo dos povos indígenas”, disse Maurício Terena, coordenador jurídico da Apib, em nota.



Com informações de Brazilian Report.

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