Minha Casa Pre Fabricada

Sul do Brasil se acostumando com enchentes devastadoras

Desastres ambientais devido a fortes chuvas tornaram-se dolorosamente comuns na maioria dos municípios do sul do Brasil colocados em estado de calamidade pública na semana passada devido a enchentes recordes. Das 336 cidades gaúchas atualmente em alerta vermelho, nove em cada dez já haviam declarado algum tipo de estado de emergência ou calamidade devido às chuvas da última década, mostra pesquisa da agência de checagem Lupa.

No total, 303 dos municípios contabilizaram um total de 953 decretos de emergência ou calamidade desde 2013. Cerca de 28 por cento destes decretos foram emitidos apenas em 2023, no maior total anual emitido no período analisado. Em setembro passado, as enchentes no Rio Grande do Sul causadas por um ciclone extratropical deixaram 54 mortos, naquele que foi o pior desastre natural da história do estado — até a semana passada.

Dados extraídos do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional mostram que 59 cidades do estado já haviam declarado emergência em 2024 devido a tempestades.

Os dados analisados ​​pela Lupa incluem decretos de situações de emergência ou estados de calamidade pública. Ambos os cenários ocorrem em resposta a uma catástrofe, mas a diferença reside na forma como a catástrofe prejudica a capacidade de resposta do governo local.

Os estados de emergência ocorrem quando as autoridades locais têm uma capacidade de resposta parcial, talvez não necessitando necessariamente de apoio estatal ou federal. Os estados de calamidade pública estão reservados para desastres de grande magnitude que exijam a adoção de medidas administrativas excepcionais.

Nos estados de calamidade pública, as autoridades municipais têm acesso facilitado aos recursos federais, podem realizar compras emergenciais sem a necessidade de licitações e podem superar metas fiscais pré-estabelecidas.

Assim, as calamidades públicas foram menos comuns que os estados de emergência no período analisado pela Lupa. Sessenta e cinco decretos de calamidade pública foram emitidos no estado entre 2013 e 2023, em comparação com 882 estados de emergência. Além disso, isso sublinha a magnitude da atual crise: um total de 395 cidades no Rio Grande do Sul estão atualmente em estado de calamidade pública.

São Jerônimo, uma pequena cidade de 21 mil habitantes localizada na confluência dos rios Taquari e Jacuí, no Rio Grande do Sul, emitiu mais decretos de emergência ou calamidade do que qualquer outro no estado desde 2013: um total de 13. Até esta segunda-feira, aproximadamente 4.800 residentes da cidade foram forçados a deixar suas casas. A cidade não registrou nenhuma morte durante a atual crise das enchentes.

Seis municípios gaúchos emitiram nove decretos no total entre 2013 e 2023: Cachoeira do Sul, Cristal, Eldorado do Sul, São Gabriel, Soledade e Venâncio Aires. O prefeito de Eldorado do Sul, Ernani de Freitas Gonçalves, afirmou que praticamente toda a cidade está submersa pela água. Estima-se que entre 20.000 e 30.000 pessoas tenham sido deslocadas, cerca de 75 por cento de toda a sua população.

O prefeito Jarbas da Rosa, de Venâncio Aires, afirmou em entrevista a uma rádio local que o cenário era de “destruição total” devido ao alto nível do rio Taquari. Três pessoas foram confirmadas como mortas na cidade. As chuvas em Soledade e São Gabriel causaram enchentes e danos materiais generalizados.

Posicionado no extremo sul do Brasil, na fronteira com Argentina e Uruguai, o Rio Grande do Sul não é estranho às fortes chuvas. Está posicionado na confluência das correntes de ar quente provenientes da Amazônia e do ar frio do Pólo Sul. Quando essas duas forças colidem, seus níveis contrastantes de temperatura, umidade e pressão resultam em tempestades. Enquanto isso, uma onda de calor no sudeste do Brasil impediu a dissipação dessas tempestades, levando à intensidade das precipitações no Rio Grande do Sul.

Embora a intensidade da crise atual não tenha precedentes, a emergência climática global torna quase certo que esta não será a última vez que o Rio Grande do Sul receberá chuvas tão monumentais num curto espaço de tempo.

O professor Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo, afirmou recentemente em entrevista publicada no site do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação que as chuvas no Rio Grande do Sul podem ser vistas como a materialização do aumento da frequência e intensidade dos eventos extremos previstos pelo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

“Não há dúvida de que este aumento das cheias, estas chuvas muito torrenciais, estão definitivamente associadas às alterações climáticas e à aceleração destas mudanças em todo o nosso planeta”, afirmou.


Publicado originalmente pela Lupa, agência de checagem de fatos, e republicado com autorização.



Com informações de Brazilian Report.

Similar Posts