Supremo Tribunal vai rastrear detratores nas redes sociais
O Supremo Tribunal Federal do Brasil está contratando prestadores de serviços para monitorar continuamente as redes sociais e identificar os principais detratores do tribunal (e também sua localização), entre outras informações.
Os empreiteiros devem sugerir formas para o Supremo Tribunal Federal “melhorar sua comunicação” com os cidadãos brasileiros. Os relatórios produzidos devem também identificar quem são os formadores de opinião sobre questões relacionadas com o tribunal e quais as posições que assumem, bem como avaliar a influência digital “do público, dos padrões de mensagens e de quaisquer ações organizadas na web”, segundo os termos do edital.
Nos últimos anos, o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral ampliaram suas atividades em nome do combate à desinformação e da preservação da democracia —- e assim suscitando uma série de debates jurídicos sobre as competências e limites do Poder Judiciário nesta tarefa.
Um inquérito aberto pelo Supremo para tratar do problema, por exemplo, já dura mais de cinco anos. Inicialmente, a investigação teve como alvo não apenas “notícias falsas”, mas também notícias desfavoráveis ao tribunal – como quando um juiz censurou um relatório que mostrava ligações entre um antigo presidente do tribunal e uma empresa corrupta.
Agora, a contratação de uma empresa de monitoramento online chama a atenção porque o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o ex-procurador-geral da República, Augusto Aras, processaram pessoas pelo que publicaram nas redes sociais – em casos fortemente contestados por advogados, acadêmicos e pela imprensa.
Além disso, em ação ainda em julgamento, os ministros Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Rosa Weber e Luís Roberto Barroso (atual presidente do Supremo) já afirmaram que outra instância de monitoramento virtual — mas visando especificamente parlamentares e jornalistas e encomendada pelo governo de Jair Bolsonaro escritório de comunicações – violou a Constituição.
Os juízes falaram num desvio de propósito da secretaria do governo e numa violação dos princípios da impessoalidade e da moralidade da administração pública. “A utilização do aparato estatal para obter informações específicas sobre posturas políticas contrárias ao governo constitui uma afronta ao direito fundamental à livre expressão do pensamento”, afirmou a ministra Cármen Lúcia.
Sobre o seu próprio monitoramento, o STF afirma que “é um serviço de compilação de conteúdo público das redes sociais sobre o STF, assim como já existe clipping para notícias de jornais e sites”.
A nota do tribunal afirma que “a consolidação de conteúdos públicos nas redes é realizada na maioria dos órgãos da administração pública e orienta o trabalho de comunicação social, para a definição de temas que devem ser melhor explicados à sociedade, por exemplo”.
Órgãos como o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior do Trabalho, o Tribunal Superior Eleitoral e o Conselho Nacional de Justiça teriam contratos semelhantes.
Com informações de Brazilian Report.