Eletrobras incorpora Furnas contra vontade do governo
Os acionistas da recentemente privatizada gigante energética brasileira Eletrobras aprovaram na quinta-feira a incorporação de sua subsidiária Furnas na holding. A votação ocorreu poucas horas depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, ter revogado duas liminares que impediam a realização da reunião, originalmente marcada para o final do ano passado.
A gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionou a redução do poder de voto do governo no conselho da Eletrobras. O governo federal tem apenas um assento no conselho, mas detém 42% das ações da empresa.
Isto deve-se à forma como a maior empresa de energia da América Latina foi privatizada há mais de um ano: através de uma oferta de 30 mil milhões de reais (6,2 mil milhões de dólares) que incluiu uma injeção de capital liderada pela própria Eletrobras e ações recém-emitidas. No final, a Eletrobras tornou-se uma corporação e a participação do governo foi reduzida num processo semelhante à privatização, mas através de canais de mercado.
Além de um assento no conselho de administração, o governo também detém a chamada “golden share”, o que significa que tem poder de veto sobre determinadas decisões estratégicas. No entanto, o governo Lula não está satisfeito com isso e contestou a sua constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal.
Furnas está presente em 15 estados e no Distrito Federal e opera um sistema robusto que cobre quase metade da energia consumida no país, além de quase um terço de toda a energia gerada pelo grupo Eletrobras.
Com a incorporação de Furnas, a nova estrutura de holding da Eletrobras visa alcançar maior eficiência. A unificação dos ativos da Eletrobras contribuirá para uma redução significativa nos custos administrativos de suas operações, com redução de impostos e duplicação de cargos na estrutura organizacional. Analistas estimam esse ganho de eficiência em cerca de R$ 2 bilhões por ano.
Politicamente, no entanto, esta incorporação cheira a um maior controlo privado sobre uma parte maior do sistema energético do Brasil. Em dezembro, outro ministro do Supremo Tribunal Federal, Kassio Nunes Marques, deu 90 dias ao governo federal e à Eletrobras para tentar resolver o impasse por meio de mediação.