Conselheiro da Vale renuncia e denuncia interferência política
O drama em torno do processo de sucessão do cargo de presidente-executivo da Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, ganhou um novo capítulo depois que um dos membros do conselho cedeu o cargo – disparando para todos os lados.
José Luciano Duarte Penido, conselheiro independente desde 2019, disse em carta ao atual presidente do conselho, Daniel Stieler, que o processo de sucessão do cargo de CEO da Vale foi “manipulado”, enredado por influências políticas “prejudiciais” e não atende aos interesses da empresa. interesses.
No fim de semana, a Vale estendeu o mandato do presidente Eduardo Bartolomeo até o final do ano. Ele deveria apoiar um processo de transição de liderança planejado para o início de 2025. O mandato do Sr. Bartolomeo estava previsto para expirar em maio deste ano, e ele esperava uma renovação por mais três anos. A interferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo, porém, atrapalhou.
No final de Janeiro, o Presidente Lula pediu ao seu Ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, que telefonasse a alguns dos maiores accionistas da empresa e sugerisse que nomeassem Guido Mantega, Ministro das Finanças do Brasil entre 2006 e 2015, como o novo CEO.
O mercado não gostou da medida, que os acionistas da empresa interpretaram como autoritária – os executivos que receberam ligações de Silveira as consideraram ameaças. Depois que o conflito se tornou público, com a Vale adiando uma reunião do conselho para discutir o papel do CEO, o governo aparentemente recuou.
No entanto, Pinedo disse na carta que a maioria dos acionistas agiu de acordo com seus próprios interesses específicos e que o processo de sucessão foi marcado por vazamentos frequentes e tendenciosos para a imprensa, “em claro desrespeito à confidencialidade”. Neste contexto, acrescentou, o seu papel como conselheiro independente tornou-se “completamente ineficaz, desagradável e frustrante”.
A chance de influência direta do governo na Vale é mínima, mas não inexistente. A empresa foi privatizada na década de 1990, e o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro reduziu a participação de empresas e fundos estatais na composição acionária da Vale.
O percentual de ações sob influência do governo federal caiu de 26,5% em 2019 para 8,7% ao final de 2022 —essa participação pertence à Previ, fundo de pensão dos funcionários da estatal Caixa Econômica Federal. No total, o atual conselho da Vale conta com 13 membros, sendo oito deles independentes.
Este alto nível de governança, porém, não parece suficiente para proteger a Vale da influência política.
Representantes de acionistas como a japonesa Mitsui e os fundos de investimento BlackRock e Capital, que em uma primeira reunião votaram para que Bartolomeo permanecesse por mais tempo à frente da empresa, votaram desta vez em sua substituição. Além de Penido, apenas um outro conselheiro independente, Paulo Hartung, se posicionou contra a saída do atual CEO no final deste ano.
Com informações de Brazilian Report.