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Banco estatal brasileiro investigado por papel na escravidão do século 19

Num movimento sem precedentes, o Ministério Público Federal iniciou uma investigação sobre o envolvimento do banco estatal Banco do Brasil na escravidão e no tráfico de pessoas durante o século XIX.

A intenção é buscar reparações históricas para empresas públicas e privadas que financiaram ou participaram de alguma forma da escravidão praticada no Brasil até 1888. O país foi o último das Américas a abolir o trabalho escravo.

Um grupo de 14 pesquisadores de 11 universidades descobriu que entre os fundadores do Banco do Brasil estavam alguns dos maiores traficantes de pessoas do continente africano. Um deles foi José Bernardino de Sá, um dos homens mais ricos da época, que fez fortuna operando metade dos barcos do tráfico ilegal entre 1838 e 1844. Em 1851, já havia contrabandeado mais de 20 mil pessoas.

Segundo os pesquisadores, em entrevista à BBC Brasil, parte do dinheiro do banco veio de taxas cobradas das embarcações de tráfico de pessoas. Além disso, o governo imperial concedeu títulos de nobreza e dinheiro aos proprietários de escravos e comerciantes ilegais que investissem no banco.

A investigação quer que o banco reconheça e divulgue o papel que desempenhou e faça reparações, como financiando estudos e políticas para brasileiros descendentes de escravos. Uma reunião entre os pesquisadores e representantes do banco está marcada para o dia 27 de outubro.

O Banco do Brasil foi fundado em 1808, coincidindo com a chegada do Rei Dom João VI ao país, fugindo das invasões de Napoleão Bonaparte. Foi refundado três vezes, principalmente como banco privado. Sua composição atual remonta a 1853, embora somente em 1905 o governo federal se torne o principal acionista, para evitar a falência,

O banco também está ligado a outro acontecimento trágico da história brasileira: a Guerra do Paraguai, o conflito mais sangrento da América do Sul. O número total de vítimas é desconhecido, mas acredita-se que tenha sido em torno de 450 mil pessoas — incluindo mais de 300 mil paraguaios, levando o país à destruição quase completa e deixando cicatrizes ainda hoje sentidas. Na época, o Banco do Brasil emitiu grandes quantias de papel-moeda para financiar elevados gastos militares.

O movimento para responsabilizar o banco pelas suas ações relacionadas com a escravatura quer seguir o exemplo de outras instituições, como o Banco de Inglaterra e as universidades Harvard e Brown nos EUA. Nos últimos anos, reconheceram o papel das pessoas escravizadas na sua história, forneceram reparações financeiras aos seus descendentes e financiaram pesquisas sobre esta questão.

O Banco do Brasil informou à imprensa que o departamento jurídico da instituição analisará os documentos do Ministério Público e prestará as informações necessárias no prazo até 17 de outubro.



Com informações de Brazilian Report.

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