brasileiros perdem espaço no japao

Japão: por que brasileiros estão perdendo seu lugar no país?

O Japão, historicamente conhecido por sua aversão à imigração, tem experimentado um aumento constante no número de imigrantes nos últimos anos.

No entanto, a comunidade brasileira, que por quase duas décadas ocupou o terceiro lugar entre os estrangeiros no país, vem perdendo espaço para outras nacionalidades. Inicialmente, foram ultrapassados pelos filipinos e posteriormente pelos vietnamitas.

Nos últimos dez anos, a população de brasileiros no Japão manteve-se praticamente estável, com cerca de 200 mil residentes, após atingir o pico de 300 mil antes da crise econômica mundial de 2008.

Em contraste, a comunidade vietnamita cresceu significativamente, totalizando atualmente 500 mil pessoas, ou 16% do total de 2,6 milhões de estrangeiros residentes no país. Os chineses continuam a ser a maior comunidade estrangeira, representando 25,1% do total.

Baixo domínio do Nihongo

Executivos especializados em recrutamento de mão de obra estrangeira, atribuem a perda de competitividade dos brasileiros no mercado de trabalho japonês a dois fatores principais: envelhecimento e falta de domínio do idioma japonês.

Eles observam que muitos imigrantes asiáticos recentes chegam ao Japão com proficiência equivalente ao nível 4 em japonês em uma escala de 1 a 5, o que é altamente valorizado pelos empregadores.

O boom da imigração brasileira para o Japão teve início com a revisão da lei de controle de imigração em junho de 1990, atraindo descendentes de japoneses e seus cônjuges até a terceira geração para trabalhar nas fábricas japonesas.

No entanto, os vietnamitas experimentaram um crescimento ainda mais rápido em um período semelhante, passando de 70 mil para quase 500 mil em uma década.

Brasileiros têm visto melhor, mas são despreparados

Brasileiros têm visto melhor, mas são despreparados
Brasileiros no Japão, de ascendência japonesa, têm vantagens em visto; vietnamitas enfrentam restrições com estagiário técnico.

Existem diferenças significativas entre as duas comunidades. A maioria dos brasileiros no Japão é de ascendência japonesa, o que lhes concede vantagens em termos de visto com menos restrições às atividades, facilitando a adaptação e a mobilidade no mercado de trabalho japonês.

Apesar de contar com inúmeras facilidades em comparação com outras nacionalidades, a comunidade nikkei (nipodescendente) acabou trazendo limitações. A grande maioria dos descendentes que imigram para o Japão tem baixa escolaridade, levando-os à uma realidade de baixa remuneração e alta carga horária no país asiático.

Apesar de serem descendentes japoneses, há uma grande tensão entre os valores da comunidade japonesa e brasileira. Além dos esteriótipos e preconceito velado que os brasileiros sofrem no país, também parece haver uma desconexão por parte dos brasileiros em relação à sua própria realidade no país asiático.

Na última eleição presidencial, a comunidade brasileira no Japão votou massivamente no candidato conservador Jair Bolsonaro (cerca de 83,62% dos votos), que defende entre outras ideias polêmicas o armamento da população civil e cortes drásticos em auxílios e do papel do governo na economia.

Isso está em contraste direto com a realidade japonesa, que possui a legislação de armamento mais restrita do planeta e também conta com inúmeros auxílios oferecidos pelo governo como o de apoio às crianças (conhecido popularmente pelos brasileiros como “auxílio leite”) e muitos outros dos quais a maioria dos brasileiros fazem uso diariamente.

O programa de estágio técnico

O programa de estágio técnico
Vietnamitas chegam ao Japão com visto de estagiário técnico, criticado por más condições e baixos salários. Expansão em 2019.

Já os vietnamitas geralmente chegam ao Japão com visto de estagiário técnico, o que impõe mais restrições.

O Japão implantou o Programa de Estágio Interno na década de 1990, destinado a fornecer treinamento e habilidades técnicas a trabalhadores de economias em desenvolvimento. No entanto, o programa foi criticado por condições de trabalho precárias e baixos salários, sendo comparado a uma forma moderna de escravidão.

Em abril de 2019, o programa foi expandido para permitir a entrada de até 345 mil trabalhadores, que poderiam permanecer no Japão por até cinco anos. Após a conclusão do treinamento, eles poderiam mudar para um visto de Habilidades Específicas, prolongando sua permanência por até dez anos.

O cenário não deve mudar tão cedo

O cenário não deve mudar tão cedo
Mão de obra estrangeira crucial no Japão. Desafios persistem, mas estrangeiros satisfeitos desempenham papel vital na economia.

A mão de obra estrangeira se tornará cada vez mais necessária para lidar com o déficit de trabalhadores no Japão. No entanto, os estrangeiros ainda representam uma pequena parcela da população japonesa em comparação com outros países. Para continuar atraindo trabalhadores estrangeiros, o Japão precisa fazer concessões adicionais e melhorar as condições de trabalho e remuneração.

Embora os desafios sejam significativos, tanto brasileiros quanto vietnamitas parecem relativamente satisfeitos com a vida no Japão, apesar das dificuldades enfrentadas. A população estrangeira no Japão continuará a desempenhar um papel importante na economia e na sociedade japonesa à medida que o país busca enfrentar os desafios de uma população em envelhecimento e uma economia em mudança.